quarta-feira, 30 de julho de 2008

TEMOR A QUEIMA ROUPA

Temo, mas enfrento.
Cuspo, mas engulo.
Rasgo, mas costuro.

Meu único livro.

Por não dar conta das páginas roubadas,
convoco "un centenar de capullos sin traducción".
Vindos dela, a inspiracción.

São propósitos similares aos da colega Sandra Radin, 2° VIG.º.
Faleceu vitimada pelo câncer.
Sem desmerecer minhas últimas palavras.
Viloladas, guilhotinadas, usadas.
No escorrer das calçadas.

A cada lauda queimada, dois exageros.
A cada pranto, a despedida.
Toda ingenuidade a serviço da falsidade.
Pura maldade.

Bibliografia de um homem só.
Se for sanidade.
Não tenha dó.

terça-feira, 29 de julho de 2008

Decodificação Banal do Pensamento

Quem pensa 99 vezes e nada descobre, nada pensa, pouco articula e filosofa. Quem pensa 99 vezes e nada descobre, está fadado há distanciar-se de um auge crítico filosófico, logo pouco compara e pouco edifica. Nesse caso, nota-se uma ausência não definitiva dos surtos de lucidez.

Pelo visto, a quantidade de ações reflexivas não está necessariamente ligada ao descobrimento da verdade sobre algo ou alguém. Entretanto, quando agimos de forma filosófica, desbravadora e vital, nos tornamos hábeis articuladores e passamos a enxergar sem borrões, mas com clarões as muitas verdades, as nossas intimidades, as verdades do mundo.

Com ou sem regras, busco o contraregras.

domingo, 13 de julho de 2008

CALEIDOSCÓPIO

O ar cheira a progresso e a radiotividade.
A natureza apresenta temperamento instável.
As músicas de protesto desafiam, desafinam.
Um ruflar irritante, o inflar de uma nação.
Monopólio dos costureiros parisienses e suas agulhadas envenenadas.
O chão de fábrica é praça pública, lavada por sangue.
Alvoroço, levante público, absurdo.
Tanta gente livre à procura de liberdade.
E o autodidata confuso? E os filósofos burocráticos?
E a liberdade que corria solta?
Um grande vazio.

Caro amigo troglodita, como as coisas mudaram.
Foquetes interplanetários, aviões a jato, computadores eletrônicos.
O vale do silício foi todo escavado, virou depressão.
Códigos jurídicos, arranha-céus, asfalto, roupas de tergal.
E o homem continua defendendo-se do HOMEM com a mão.
Meliantes, sonegadores, cinemaníacos, pleonasmicos.
Chovem no molhado, sob as vestes dos rivais.

Para noticiar tais avanços, entra em cena o escritor polimorfo e suas notícias anti-estéticas.
Para censurar, magnatas e suas atas, pulverização das verbas públicas.
Semáfaros apagados, subliteratura em três tempos.
Ready...
Set...
...I
...P
...S
...I
...S

...L
...I
...T
...T
...E
...R
...I
...S
Trabalhos justos e imperfeitos.
Fugitiva paciência franciscana.
Povo enclausurado, ludibriado, coitado.
Ambivalência, euforia e angústia na era espacial.
Viva o homem feito de papel.
E sua tesoura, aparando arestas.

Quantas mudanças, raquítico serviçal.
Fórmulas da paz, módulo capsular que rasga o nada.
E invade lentamente minha consciência.
Pesada como mil kilos de plumas.
Ao escrever, a libertação: dos ombros tiro a tonelada.
Da mente, a ira maltratada.
Estrelismo barato, autógrafos com sangue.

Pelo visto, tudo isso me assusta.
Não sei ao certo se sigo ou travo.
Tenho medo das consequências.
Justiçeiras que tanto me rondam.
Atuam sobre o tempo das coisas.
Em meio a tudo, algo é certo:
A imperfeição do homem é sempre relativa.
Multiopinativa dentro de jaulas mentais.
Nódulos para calar o ímpeto, óbulos para converter o ímpio, óvulos para a fertilizar a terra.
Mãe natureza, de uma filha tecnológica e pós-moderna.
Que ainda vou amar.

Olho por olho, dente por dente.

Não sou escravo, nem doente.

O caleidoscópio não mente.