domingo, 13 de julho de 2008

CALEIDOSCÓPIO

O ar cheira a progresso e a radiotividade.
A natureza apresenta temperamento instável.
As músicas de protesto desafiam, desafinam.
Um ruflar irritante, o inflar de uma nação.
Monopólio dos costureiros parisienses e suas agulhadas envenenadas.
O chão de fábrica é praça pública, lavada por sangue.
Alvoroço, levante público, absurdo.
Tanta gente livre à procura de liberdade.
E o autodidata confuso? E os filósofos burocráticos?
E a liberdade que corria solta?
Um grande vazio.

Caro amigo troglodita, como as coisas mudaram.
Foquetes interplanetários, aviões a jato, computadores eletrônicos.
O vale do silício foi todo escavado, virou depressão.
Códigos jurídicos, arranha-céus, asfalto, roupas de tergal.
E o homem continua defendendo-se do HOMEM com a mão.
Meliantes, sonegadores, cinemaníacos, pleonasmicos.
Chovem no molhado, sob as vestes dos rivais.

Para noticiar tais avanços, entra em cena o escritor polimorfo e suas notícias anti-estéticas.
Para censurar, magnatas e suas atas, pulverização das verbas públicas.
Semáfaros apagados, subliteratura em três tempos.
Ready...
Set...
...I
...P
...S
...I
...S

...L
...I
...T
...T
...E
...R
...I
...S
Trabalhos justos e imperfeitos.
Fugitiva paciência franciscana.
Povo enclausurado, ludibriado, coitado.
Ambivalência, euforia e angústia na era espacial.
Viva o homem feito de papel.
E sua tesoura, aparando arestas.

Quantas mudanças, raquítico serviçal.
Fórmulas da paz, módulo capsular que rasga o nada.
E invade lentamente minha consciência.
Pesada como mil kilos de plumas.
Ao escrever, a libertação: dos ombros tiro a tonelada.
Da mente, a ira maltratada.
Estrelismo barato, autógrafos com sangue.

Pelo visto, tudo isso me assusta.
Não sei ao certo se sigo ou travo.
Tenho medo das consequências.
Justiçeiras que tanto me rondam.
Atuam sobre o tempo das coisas.
Em meio a tudo, algo é certo:
A imperfeição do homem é sempre relativa.
Multiopinativa dentro de jaulas mentais.
Nódulos para calar o ímpeto, óbulos para converter o ímpio, óvulos para a fertilizar a terra.
Mãe natureza, de uma filha tecnológica e pós-moderna.
Que ainda vou amar.

Olho por olho, dente por dente.

Não sou escravo, nem doente.

O caleidoscópio não mente.

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