domingo, 9 de março de 2008

ONÇA

Eis a onça pintada, malandra de boqueirão,
que escapa da fúria dos canos fumegantes das espingardas.

Patrão da Ladeira, que, sem eira nem beira,
fica ao sol do meio dia,
esbugalhando-se pela féria do dia.

Quando mansa, só descansa e não avança,
mas não cutuque e nem retruque com vara curta.

Da aparente sensação de calma,
a fúria repentina.

Endiabrada, tenta escapar da tormenta
pelo fiapo de luz do beco todo ladrilhado.

Corre felina...
Corre ferina...
Corre felino!

A tarde cai, a noite vem.

Complacente, aos poucos, camufla, defende e mimetiza esta retinta.
Tição à meia noite, sobra do sereno mal enxugado.

Na madrugada, esfomeada e sem pestanejar,
busca, incessantemente, o seu manjar,
mas, à noite, dá sinais de dia
e os galos do mato anunciam que,
antes do despertar, da retomada, e dos primeiros rancores,
como num prenúncio,
surgirá o melodrama.

Ele virá com força e sem perguntar,
tratará de destroçar o que sobrou dos enfraquecidos instintos felinos.
As lágrimas ácidas começam a escorrer num ritmo maior
e a catástrofe já se anuncia.

Ruflam os tambores cardíacos,
garras elasticamente curvadas são acionadas,
sentidos aguçados são redobrados
e os movimentos cadenciados.

Surge, então, o interrogativo projétil de caça,
que ameaça, com desgraça, a vida animal.

Estampidos, gemidos, urros e uma queda.
Um covarde abate.
Vindo de um bacamarte.
Quisera fosse a Marte, mas não há arte nem magia que reverta tal sangria.

A sustentabilidade do agora e do depois foi violada.

Típicos desprazeres de um crime capital.
Uma onça a menos no meu matagal.

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